a semana que passou andei estranha (ainda mais que o habitual), de dia genuinamente bem-disposta, de bem com a vida, à noite com ansiedade, regada a saudade e lágrimas...
na sexta-feira recebi um telefonema de alguém com quem já não falava há alguns anos, mais de nove. alguém de quem fui muito próximo. um ser humano bom em quem confiava sem reservas, com quem me abri aquando da descoberta da existência de seres humanos de natureza menos nobres - maus, mesquinhos, sem ponta de carácter, com toneladas de egoísmo, que quando apontam baterias para nós, mesmo que seja só porque somos quem está mais à mão de semear, acabamos marcados, tão marcados que mudamos... pese embora nos ensinem muito, nos ajudem a crescer, e sobretudo a perceber que o rumo certo é sermos diametralmente diferentes deles, sem o apoio de alguém disposto a dar-nos atenção, carinho e provas de ser merecedor de total confiança, tudo seria muito mais difícil -, tenho muito a agradecer-lhe, foi o meu porto de abrigo, a minha luz ao fundo do túnel.
anos, alguns desentendimentos entre pessoas que nos eram próximas, e muito silêncio após, venho a saber que sofreu um golpe duro e profundo. conhecendo como conhecia, sei que deve ter batido no fundo, deve ter demorado anos a recuperar-se.
em todos estes anos sempre imaginei que estivesse bem, curiosamente horas antes de me ligar pensei como estaria, na certeza que a vida teria seguido um determinado rumo, horas após soube que tudo foi bem diferente.
nestes nove anos que passaram sem nos falarmos, eu mudei, desiludi-me com as pessoas, deixei de ser a pessoa cândida com quem partilhou tanto... e agora, apesar de saber pelo que passou, uma dor que não merecia, porque era um ser maravilhoso, de sorriso disponível, de braços sempre abertos, de coração limpo, onde os segredos se guardavam em poços sem fundo. agora é com tristeza que dou comigo com medo de confiar. será que ainda sei alguma coisa da pessoa com quem falei? se pessoas com quem convivo diariamente me surpreendem, como posso acreditar que passados mais de nove anos, passado tanto sofrimento, esta pessoa se mantêm a mesma?
não gosto de pensar assim, tenho saudade do ser que já fui, mais simples, mais descomplicado, mais genuíno, tenho saudade de confiar sem reservas, de acreditar sem dúvidas...