Há doenças piores que as doenças,
Há dores que não doem, nem na alma
Mas que são dolorosas mais que as outras.
Há angústias sonhadas mais reais
Que as que a vida nos traz, há sensações
Sentidas só com imaginá-las
Que são mais nossas do que a própria vida.
Há dores que não doem, nem na alma
Mas que são dolorosas mais que as outras.
Há angústias sonhadas mais reais
Que as que a vida nos traz, há sensações
Sentidas só com imaginá-las
Que são mais nossas do que a própria vida.
Há tanta cousa que, sem existir,
Existe, existe demoradamente,
Existe, existe demoradamente,
E demoradamente é nossa e nós...
Por sobre o verde turvo do amplo rio
Os circunflexos brancos das gaivotas...
Por sobre a alma o adejar inútil
Do que não foi, nem pôde ser, e é tudo.
Dá-me mais vinho, porque a vida é nada
Por sobre o verde turvo do amplo rio
Os circunflexos brancos das gaivotas...
Por sobre a alma o adejar inútil
Do que não foi, nem pôde ser, e é tudo.
Dá-me mais vinho, porque a vida é nada
citação de poema de Pessoa, pag. 421
embora não seja apreciadora de poesia, a partir de certa altura da minha vida adulta passei a sentir um certo fascínio por Pessoa, ou melhor, por um dos seus heterónimos, Alberto Caeiro. senti que ele transpunha para palavras, o que eu hoje sentia e no passado considerava ridículo.
ler o Fernando Pessoa de Sónia Louro é perturbante, e assim sendo parece-me que a autora soube transpor para o papel a alma deste senhor. julgo ter sido a primeira vez que, ao ler um livro, dei por mim a imaginar como terá sido difícil o processo de escrita. como conseguiu a autora entrar de tal maneira no sentir de outro, e logo um ser humano tão único, e transpô-lo para o papel com tamanha sentido de realidade? este livro pareceu-me uma conversa com Pessoa, e para mim que partilho algumas das suas angústias, foi dura, violenta de tão lúcida!
partilho com vocês algumas das angústias que partilhei com o Pessoa a quem Sónia Louro deu vida:
achar-se feio e vestir bem para esconder a feiura;
não acreditar que era genuinamente amado, porque nele não há nada que desperte interesse;
ter dúvidas sobre o que sente, ou se será capaz de amar verdadeiramente;
ter muita dificuldade em concretizar, pensar muito e agir pouco;
sentir-se pouco à vontade no contacto pessoal e no contacto com grupos de pessoas;
achar que a origem da infelicidade é o excesso de lucidez, o pensar demais, e de tão lúcidos sermos tornámo-nos diferentes, loucos;
as coisas são sempre mais interessantes enquanto não as temos, o concretizado nunca chega aos pés do sonhado, e por isso somos eternos insatisfeitos;
a infância é altura mais feliz do ser humano, aquela em que não "pensámos".
achar-se feio e vestir bem para esconder a feiura;
não acreditar que era genuinamente amado, porque nele não há nada que desperte interesse;
ter dúvidas sobre o que sente, ou se será capaz de amar verdadeiramente;
ter muita dificuldade em concretizar, pensar muito e agir pouco;
sentir-se pouco à vontade no contacto pessoal e no contacto com grupos de pessoas;
achar que a origem da infelicidade é o excesso de lucidez, o pensar demais, e de tão lúcidos sermos tornámo-nos diferentes, loucos;
as coisas são sempre mais interessantes enquanto não as temos, o concretizado nunca chega aos pés do sonhado, e por isso somos eternos insatisfeitos;
a infância é altura mais feliz do ser humano, aquela em que não "pensámos".
aconselho a leitura. a quem como eu sofre de angústias, inseguranças e afins, deixo uma dica: façam-no numa época em que a vossa mente ande calminha :P
Parece-me intenso... gosto de Fernando Pessoa na pela de Alberto Caeiro, acho-o mais "humano" na sua forma de escrever e sentir :))
ResponderEliminarIntenso é a palavra Lírio. Caeiro é um dessecador de sentimentos! ;)
EliminarBeijos
Estou convencida, vou acrescentar esse livro à lista dos que quero comprar!
ResponderEliminarTambém partilho algumas dessas angustias
Espero que gostes. ;)
EliminarQue a vida as afaste de ti. <3
Beijos
Fiquei com vontade de ler, será a minha próxima aquisição. Obrigado pela dica :)
ResponderEliminarEspero que corresponda às expectativas. :)
EliminarBeijos
Livro do Desassossego foi das melhores coisas que li.
ResponderEliminarConfesso que tenho curiosidade, mas se tiver a densidade emocional deste vai ser complicado de ler.
EliminarBeijos