Entre 1983 e 2005, durante os terríveis anos da Guerra Civil que assolou o Sudão, estima-se que mais de dois milhões de pessoas tenham perdido a vida. Em busca de abrigo, um sem-número de famílias deixou as suas casas e seguiu em direcção a campos de refugiados. Devido à situação caótica em que viviam, perto de 27 mil crianças foram separadas dos pais, fazendo o trajecto sozinhas. Eram estes os "lost boys/girls", crianças de todas as idades que, fugindo aos perigos e, muitas vezes, acompanhadas pelos irmãos, percorriam milhares de quilómetros para alcançar os campos. Alguns anos mais tarde, um esforço humanitário levou para os EUA algumas destas crianças.
1993. Mamere e Theo são filhos do chefe de uma pequena aldeia no Sul do Sudão. Quando um ataque das milícias destrói toda a aldeia e lhes mata os pais, Theo é forçado a liderar um grupo de jovens sobreviventes e levá-los para um lugar seguro. Nesse árduo percurso, vão encontrando outras crianças em fuga. Entre elas está Jeremiah, de 13 anos, um rapaz inteligente e destemido que os ajuda a chegar com vida ao campo de refugiados de Kakuma, no Quénia. Anos mais tarde, Mamere, Theo e Jeremiah têm a oportunidade de deixar o campo e de se estabelecerem na América. Ao chegarem a Kansas City, no Missouri, são recebidos por Carrie Davis, que foi incumbida de os ajudar a retomar as suas vidas. Para ela, esta será uma oportunidade de perceber como a generosidade e o despojamento podem fazer realmente a diferença na vida de alguém.
quando me falaram do filme, e após ler a sinopse, recordo-me de ter comentado algo como "não sei se vou gostar, parece mais um filme à boa maneira americana, happy ending, a vida real não é assim!
em a boa mentira não há happy ending, não se vende o sonho americano, chega-se até, na minha opinião, a desconstrui-lo.
retratando uma das mais duras realidades de vida a que seres humanos podem estar expostos, a boa mentira mostra-nos como sob estas condições se forjam valores de enorme nobreza e se criam laços de infindável consistência. somos, assim, levados a reflectir sobre o quanto desvalorizamos o tanto que temos, e o quão fraca é a nossa capacidade de resistência perante os tão suaves contratempos que a vida nos coloca.
chamam-nos os meninos perdidos do sudão, mas nós não nos perdemos, nós encontramo-nos!
Jeremiah
retive esta fala, de um dos personagens menino perdido do sudão - interpretado por um verdadeiro refugiado sudanês-, julgo que resume a essência do filme. comparando a nossa realidade de vida com a dos refugiados do campo de concentração de kikuma, ou a de tantos outros sobreviventes de conflitos que assolam o seu lugar no mundo, percebemos o quanto faz sentido. apesar de termos o lugar onde pertencemos, a maioria parece andar perdida do que realmente importa. os valores morais, só eles podem traçar o caminho para uma vida com sentido.
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