“não podemos controlar o modo como os outros se sentem em relação a nós”, disse-me um dia uma jovem amiga, e eu, que penso tanto, nunca tinha pensado em algo que se afigurou, naquele momento, tão simples, tão óbvio!
sou uma overhinker, procuro uma explicação para tudo…
acho que não sou overlover, sou generosa, não entendo o amor (seja ele do tipo que for) sem me importar com o outro, sem lhe querer bem e sem estar disposta a dar a minha atenção e o meu tempo para estar por perto, sobretudo nos momentos menos bons, ainda que seja só a ouvir, sem conselhos, sem soluções milagrosas… procuro entender, pôr-me no lugar do outro.
não sou de falsos moralismos, nem de superioridades. oiço muitas vezes sem concordar, mas também sem criticar, procuro o momento mais adequado e as palavras mais sensíveis para mostrar outras formas de ver a mesma realidade. erro, sou “agreste”, claro, sou só um ser humano…
peço desculpa com a mesma facilidade e coração cheio com que digo obrigada.
durante a maior parte da minha vida adulta faltou-me a autoestima, mas nunca me faltou o respeito por mim. posso não ser um ser humano, uma mulher, uma profissional incrivelmente boa, mas sempre dei o meu melhor, e se assim é não admito a ninguém que me diminua por pura maldade, egoísmo, insegurança ou seja o que for.
nunca impus a minha presença na vida de ninguém, só fico onde me querem, e onde me fazem sentir querida. não aceito migalhas, nem me acomodo a lugares onde me querem moldar ao tamanho do pouco que têm para me oferecer.
fisicamente afasto-me, com aparente facilidade, dessas pessoas, mas tenho dificuldade em desligar-me emocionalmente. passo horas em claro a pensar no porquê de tanto apego, encontro muitas explicações, talvez muitas delas sejam puro engano, tentativas de mascarar o meu masoquismo!
“não podemos controlar o modo como os outros se sentem em relação a nós”, mas como é que alguém que me foi tão próximo, com quem partilhei o meu sentimento de inferioridade, os meus medos e inseguranças, alguém perante quem me deixei vulnerável ao expor os meus sentimentos, alguém perante quem sempre pus de lado o que eu queria para dizer e fazer o que era correcto. como é que alguém com quem sempre fui incondicionalmente sincera pode pensar que eu seria capaz de o agredir dizendo-lhe que sou muito mais inteligente e sensível, recusando-me a estar lá para o ouvir, como? “não podemos controlar o modo como os outros se sentem em relação a nós”
não quero, preciso ou aceito desculpas de frete. prefiro a raiva sentida que o arrependimento a pedido, para agradar…
eu só queria contar-te o que se passou comigo…
tu tens vida, eu também. as minhas acções sempre demonstraram o quanto eu respeito a tua vida feliz. aprendi a aceitar que a nossa amizade era (quase) unilateral, nunca deixei de estar lá para ti quando precisavas, mesmo sabendo que se eu precisasse tinha horários a cumprir. se as regras mudaram foste tu que as mudaste, foste tu que me procuraste fora do horário em que éramos amigos, dentro do horário da tua vida. eu não forcei nada, foste tu que me procuraste, eu só fui eu, e estive lá para ti, nunca esperei nada em troca, só quis ajudar porque gostava de ti, porque me importava…
aceito (quase) sem dificuldade que o tamanho do quanto eu gosto de ti é muito maior que seja lá o que for que te liga a mim. não aceito que me uses, não sou a mota que tiras da garagem quando não te apetece andar de carro. sou uma pessoa, disse-te algumas (muitas, talvez demais) vezes que ser sincero é diferente de ser burro, que gostar é querer bem, que dizer o que se pensa não é atacar quem pensa de maneira diferente. agradeci-te tantas vezes pela ajuda que, sem saber, me deste para trilhar o caminho do amor próprio. pedi-te desculpa pelo que sentia e dizia, por não ter tido coragem de te defender, por ser chata, maluca.
e tu achas que eu me julgo superior, “não podemos controlar o modo como os outros se sentem em relação a nós”!
julgas que me agrides-me atirando-me à cara a tua vida feliz. enganas-te, a felicidade das pessoas que eu amo nunca me fez sentir mal. não sabes, nem podes imaginar, que cada vez que pensava em ti e sabia que estavas na tua vida, o meu desejo era que cada pensamento meu fosse um momento de felicidade teu.
magoou-me profundamente a tua indiferença, magoou-me ao ponto de abalar a minha autoconfiança. tirou-me horas de sono a procura de uma explicação para o teu comportamento. encontrei explicações que só aumentaram o tamanho da minha mágoa. tinhas-me usado e estavas a descartar-me, eras um egoísta igual a outros que passaram na minha vida e confundiram a minha sinceridade e generosidade com burrice, estavas incomodado com o facto de eu estar a atravessar uma fase boa, estar com confiança e a partilhar contigo as minhas vitórias, eras uma besta insensível que só queria o meu apoio, mas não era capaz de perder uns segundos da sua vida para estar lá para mim.
talvez tenha sido uma semana de massacre com estas ideias na cabeça, a tentar convencer-me do que me diziam, que eras um egoísta e que pessoas assim não fazem falta na nossa vida, que não merecias a minha amizade…
e um dia, do nada, uma outra explicação assaltou-me! medo, a tua indiferença era medo, tu tens medo de mim! medo de ouvir o que eu poderia dizer (medo de perceber que eu tenho razão), medo que eu te expusesse perante as tuas novas colegas. foi o medo, e não a indiferença, que fez com que não tivesses coragem de olhar na minha cara, foi ele que te fez preferir sentar ao meu lado, em vez de à minha frente, assim não tinhas de sentir o que o meu rosto iria mostrar!
se esta for a explicação certa para o teu comportamento, não é de mim que tens medo, é de ti!
eu tenho coragem de não ser o que os outros querem, de dizer o que penso, de me expor, tu tens vida!
que sejas muito feliz na tua vida.
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