Se tivessem acreditado na minha brincadeira de dizer verdades teriam ouvido as verdades que teimo em dizer a brincar, falei muitas vezes como um palhaço mas jamais duvidei da sinceridade da plateia que sorria. Charles Chaplin

Tornámo-nos eternamente responsáveis por aquilo que cativamos. Antoine de Saint-Exupéry

A cabeça que se não volta para os horizontes sumidos não contém nem pensamento nem amor. Victor Hugo

Não importa o que fizeram connosco, importa o que fazemos com aquilo que nos fizeram. JP Sartre

quinta-feira, 19 de fevereiro de 2015

do livro que eu li - Fernando Pessoa

 
Há doenças piores que as doenças,
Há dores que não doem, nem na alma
Mas que são dolorosas mais que as outras.
Há angústias sonhadas mais reais
Que as que a vida nos traz, há sensações
Sentidas só com imaginá-las
Que são mais nossas do que a própria vida.
Há tanta cousa que, sem existir,
Existe, existe demoradamente,
E demoradamente é nossa e nós...
Por sobre o verde turvo do amplo rio
Os circunflexos brancos das gaivotas...
Por sobre a alma o adejar inútil
Do que não foi, nem pôde ser, e é tudo.

Dá-me mais vinho, porque a vida é nada
 
citação de poema de Pessoa, pag. 421
 

embora não seja apreciadora de poesia, a partir de certa altura da minha vida adulta passei a sentir um certo fascínio por Pessoa, ou melhor, por um dos seus heterónimos, Alberto Caeiro. senti que ele transpunha para palavras, o que eu hoje sentia e no passado considerava ridículo.

ler o Fernando Pessoa de Sónia Louro é perturbante, e assim sendo parece-me que a autora soube transpor para o papel a alma deste senhor. julgo ter sido a primeira vez que, ao ler um livro, dei por mim a imaginar como terá sido difícil o processo de escrita. como conseguiu a autora entrar de tal maneira no sentir de outro, e logo um ser humano tão único, e transpô-lo para o papel com tamanha sentido de realidade? este livro pareceu-me uma conversa com Pessoa, e para mim que partilho algumas das suas angústias, foi dura, violenta de tão lúcida! 
 
partilho com vocês algumas das angústias que partilhei com o Pessoa a quem Sónia Louro deu vida:
achar-se feio e vestir bem para esconder a feiura;
não acreditar que era genuinamente amado, porque nele não há nada que desperte interesse;
ter dúvidas sobre o que sente, ou se será capaz de amar verdadeiramente;
ter muita dificuldade em concretizar, pensar muito e agir pouco;
sentir-se pouco à vontade no contacto pessoal e no contacto com grupos de pessoas;
achar que a origem da infelicidade é o excesso de lucidez, o pensar demais, e de tão lúcidos sermos tornámo-nos diferentes, loucos;
as coisas são sempre mais interessantes enquanto não as temos, o concretizado nunca chega aos pés do sonhado, e por isso somos eternos insatisfeitos;
a infância é altura mais feliz do ser humano, aquela em que não "pensámos".
 
aconselho a leitura. a quem como eu sofre de angústias, inseguranças  e afins, deixo uma dica: façam-no numa época em que a vossa mente ande calminha :P

8 comentários:

  1. Parece-me intenso... gosto de Fernando Pessoa na pela de Alberto Caeiro, acho-o mais "humano" na sua forma de escrever e sentir :))

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    1. Intenso é a palavra Lírio. Caeiro é um dessecador de sentimentos! ;)

      Beijos

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  2. Estou convencida, vou acrescentar esse livro à lista dos que quero comprar!
    Também partilho algumas dessas angustias

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    1. Espero que gostes. ;)
      Que a vida as afaste de ti. <3

      Beijos

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  3. Fiquei com vontade de ler, será a minha próxima aquisição. Obrigado pela dica :)

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  4. Livro do Desassossego foi das melhores coisas que li.

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    1. Confesso que tenho curiosidade, mas se tiver a densidade emocional deste vai ser complicado de ler.

      Beijos

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