Se tivessem acreditado na minha brincadeira de dizer verdades teriam ouvido as verdades que teimo em dizer a brincar, falei muitas vezes como um palhaço mas jamais duvidei da sinceridade da plateia que sorria. Charles Chaplin

Tornámo-nos eternamente responsáveis por aquilo que cativamos. Antoine de Saint-Exupéry

A cabeça que se não volta para os horizontes sumidos não contém nem pensamento nem amor. Victor Hugo

Não importa o que fizeram connosco, importa o que fazemos com aquilo que nos fizeram. JP Sartre

domingo, 9 de junho de 2013

acabadinho de ler


Cheguei a pensar que pela primeira vez não iria gostar de um romance de José Rodrigues dos Santos (JRS), todos os que li até agora, têm sempre por base factos reais que o autor nos vais mostrando, com mestria e simplicidade (residirão uma na outra), através das vivências romanceadas dos seus personagens, O Anjo Branco não é excepção, debruça-se sobre a vidas dos Portugueses na colónias Africanas, particularmente Moçambique, abordando de forma mais profunda os anos da "Guerra do Ultramar". É sem dúvida um tema sobre o qual gostava de saber mais, o meu pai é ex-combatente dessa guerra, são conhecidos e não são poucos os casos de jovens que dela trouxeram traumas que os perseguiram toda a vida - o meu pai felizmente não é um desses casos, sempre que fala do assunto não lhe noto mágoa, e nunca nos contou pormenores sobre as operações no mato, talvez ele próprio as tenha eliminado da sua mente. Voltando ao romance, e não querendo abrir muito o véu, está dividido em três partes, Paraíso, Purgatório e Inferno, posso dizer-vos que devorei a primeira parte com aquela ânsia que a escrita de JRS me causa, chegada ao purgatório a ânsia começou a esmorecer, e dava comigo a pensar "é isto? um relato cor-de-rosa da vida nas ex-colónias!" e confesso que só continuei a ler porque o livro não é meu, e tinha de o devolver ao dono. De repente tudo muda, a realidade afigura-se na minha cabeça, a vida nas ex-colónias era mesmo cor-de-rosa antes da guerra, quantos retornados já não ouvimos falar sobre as saudades que têm e a vontade que tinham de voltar? Tudo era maravilhoso até ao inferno se abater sobre as vidas destas pessoas, e é nesta parte que a mestria de JRS brilha, um relato pungente da vida de quem se vê no horror de saber que não tomar uma atitude tida em condições "normais" como inaceitável pode pôr em risco a sua vida e a de tantos outros. O limiar entre o bem e o mal, haverá um limite concreto? Uma definição exacta? Até onde somos capazes de ir na luta pelo que achamos correcto?
Ao acabar o livro, apraz-me dizer MUITO BOM.

Deixo um extracto, que por coincidência, vai muito ao encontro do meu post anterior:
"Sabe na verdade o que é o mal?"...
"É a incapacidade de nos pormos no lugar do outro... O mal é a incapacidade de imaginar os sentimentos do outro e de os sentir como se pudéssemos ser nós."

Pergunto eu, será o Homem algum dia capaz de viver em função desta definição? 
Respondo eu, cada um só pode fazer a sua parte, mas a vida é feita em comunidade...

12 comentários:

  1. Li esse livro já há algum tempo e adorei =)

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  2. Demorei imenso tempo a ler esse livro...tinha que fazer pausas de dias porque as cenas descritas eram brutais e impressionantes, mas gostei muito

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    1. A parte final é bastante dura, mas essa foi a que devorei com maior avidez.

      Beijos

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  3. Olá Canca,
    Adoro esse autor por uma razão mas explico depois, acho que irei gostar de todos os livros dele mas ainda não tive oportunidade ler esse e outros, :(

    Em relação à tua pergunta: "será o Homem algum dia capaz de viver em função desta definição?" - Eu quero acreditar que sim mas no meu dia a dia cada vez acredito menos nisso, é tão fácil julgar e apontar o dedo.

    Continuação de bom domingo, beijinhos.

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    1. A minha crença na capacidade de o Ser Humano ser Bom também se tem vindo a desvanecer, no entanto não duvido que há muitos Seres Humanos bons, é cultivar as relações com os que passam no nosso caminho. :)

      Beijinhos

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  4. Um dos melhores livros que já li, adoro o autor :)

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  5. Já li o Anjo Branco e gostei muito, mas a Filha do Capitão continua a ser o meu preferido deste autor.

    Beijinhos e boas leituras*

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  6. Também gostei imenso desse livro. :) Mais um Zé na lista de melhores escritores portugueses, para mim. José Rodrigues dos Santos, José Luís Peixoto e José Saramago. :)
    beijinho

    P.S. - Entretanto descobri que o livro O Filho do Papa já está na "minha" biblioteca. Assim que acabar os que tenho agora em casa trago-o para ler. :)

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    1. Já comprei o "Dentro do Segredo" aconselhado por uma menina de mente flutuante, ;) ainda não comecei a ler.

      A Filha do Papa do Luís Miguel Rocha? Essa biblioteca é o máximo também quero uma assim :'(

      Beijos

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