Se tivessem acreditado na minha brincadeira de dizer verdades teriam ouvido as verdades que teimo em dizer a brincar, falei muitas vezes como um palhaço mas jamais duvidei da sinceridade da plateia que sorria. Charles Chaplin

Tornámo-nos eternamente responsáveis por aquilo que cativamos. Antoine de Saint-Exupéry

A cabeça que se não volta para os horizontes sumidos não contém nem pensamento nem amor. Victor Hugo

Não importa o que fizeram connosco, importa o que fazemos com aquilo que nos fizeram. JP Sartre

quarta-feira, 4 de setembro de 2013

Ela podia ser eu

conversa 2031

Ela - O meu marido gosta demasiado de mim.
Eu - Demasiado?!
Ela - Sim. Precisava que ele gostasse menos de mim, que era para eu conseguir gostar mais um bocadinho dele...
Eu - Confundes-me totalmente.
Ela - Isso é porque não percebes nada de desafio.
Eu - Que desafio?
Ela - Desafio, pá. Se um gajo não nos desafia em nada, perde o interesse.


Publicada por Bagaço Amarelo

ao ler esta conversa, no não compreendo as mulheres, senti-me espelhada nas palavras dela - tirando a parte do marido, como já por aqui disse, não acredito na contratualização de sentimentos. a expressão "gosta demasiado de mim", não pode ser entendida à letra, ninguém gosta demasiado, cada um gosta à sua maneira, o outro é que pode, ou não gostar de ser gostado daquela forma. empenha-se em mostrar que gosta, mostra-o constante e insistentemente, é neste sentido que compreendo a Ela. preciso, quero e gosto de me sentir amada, mas não quero de forma alguma que o outro se anule em função de mim, que abandone os seus gostos, crenças, ideais, sonhos, e vontades em função dos meus. podemos amar profundamente, mas não somos siameses, cada um tem as suas características genéticas e experiências de vida, somos pessoas diferentes. embora para amar precisemos de empatias e pontos de contacto, é muitas vezes nas diferenças que encontramos atracção, por vezes em características que nós admiramos, e não temos. uma boa parte da química nas relações amorosas, para mim, vem do fascínio que as diferenças do outro exercem em nós. quando quem ama se dedica demasiado ao parceiro, asfixia-o, não lhe dá liberdade de lhe sentir a falta, e como Ela diz, não o deixa gostar mais, porque o cansa, o satura.

acredito que as relações são feitas de presenças, mas não sobrevivem sem ausências, são feitas de dedicação, mas precisam de um pouco de indiferença, caso contrário caem na mesmice, na rotina, no enjoo.
descobri que sinto assim logo no meu primeiro namoro. o R era um rapaz muito popular, por quem muitas miúdas babavam, e a quem muitas passavam a vida a cercar. por força da atracção que exercia na minha melhor amiga acabou por entrar na minha convivência. a bem da verdade, não lhe achava grande piada, mesmo que achasse nunca o demonstraria por dá cá aquela palha, não é essa a minha maneira de ser. acho que foi por isso que ele reparou em mim. eu era diferente, não me oferecia. recordo o dia em que me dirigiu a primeira frase provocatória, a princípio senti-me ferida, mas não consegui de deixar de pensar nisso. surtiu o efeito que ele pretendia, de forma subtil e inteligente, sem o dizer disse-me "é em ti que eu reparo". seguiram-se muitos olhares e sorriso cúmplices, daqueles que tenho a certeza as bajuladoras nunca receberam. era de alguém assim que eu queria gostar, alguém que mostrasse gostar de mim não com os gestos mesmeiros, as cartas, as flores, a adulação, mas com subtilezas, atitudes e palavras que nos inflamam, mas nos deixam sempre uma réstia de dúvida. o R foi assim durante o pré-namoro, no dia em que oficializamos o namoro transformou-se radicalmente, parecia o meu sombra, fazia e existia em função de mim, um tédio. as minhas amigas adoravam-no, quantas vezes me diziam "ele gosta tanto de ti, e tu trata-lo mal". eu não o tratava mal, apenas mantive o meu comportamento, era o nosso código, a nossa linguagem, a nossa química. não consegui aguentar muito tempo, percebi não suportar amores pegajosos, preciso de pica, de desafio, não sei gostar, nem ser gostada de outra forma. o R nunca entendeu porque acabei, e desiludiu-me ainda mais profundamente ao me acusar de ter outra pessoa. acabei por perder toda a consideração que tinha por ele no dia em que me disse, "é de ti que eu gosto, só comecei a namorar com ela para te provocar, deixo-a quando quiseres".

não voltaram a gostar de mim assim, felizmente.

12 comentários:

  1. Adorei o teu texto e sem dúvida para mim...o fascínio reside de fato na diferença e só um indivíduo completo (com os seu defeitos e qualidades),consegue estabelecer com o outro uma relação plena!!!!
    Não acredito que se possa ou deva mudar alguém...pelo menos no amor tenho a certeza de que não funciona!
    Bjs
    Maria

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    1. Sem dúvida amar é querer compreender, é aceitar...

      Beijos

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  2. Compreendo perfeitamente o que dizes e concordo. Acho que uma relação para ser saudável tem de ter os dois num todo, mas também os dois numa fórmula de 1 + 1, porque cada um deve manter a sua personalidade, sendo uma pessoa na sua essência.
    beijinho

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    1. Amar é saber aceitar o outro como ele é, e para o relacionamento funcionar julgo que as pessoas não podem deixar de ser verdadeiras com o outro, mas também fiéis a si mesmas.

      Beijinhos

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  3. Cada um ama à sua maneira, funciona desde que se ama e se goste de ser amado assim, como o outro ama. Eu e o meu marido somos duas aves-raras :) muito diferentes uma da outra, temos maneiras de amar diferentes, mas uma quimica que funciona bem e de alguma forma se completa. Mas somos muito pegajosos :) um não respira sem o outro :) mas só funciona porque ninguém sufoca ninguém ... não há apenas uma forma de amar ... felizmente :)

    beijinhos

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    1. Também penso que é preciso amar, e também gostar da forma como se é amado, mas no amor não há fórmulas e qualquer outra maneira de o viver é válida desde que os amantes se sintam bem.
      Fico feliz por teres uma relação assim bonita e positiva. :)

      Beijinhos

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  4. Adorei o teu e concordo em muitas coisas com ele... É nas diferenças que surge o interesse, a química... mas depois é preciso a empatia, os gostos em comum para nos mantermos juntos... eu gosto muito do meu espaço, da minha liberdade, não consigo entender uma relação onde se apague o espaço de cada um...

    Beijinho grande*

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    1. Mais algumas coisas em comum, concordo com tudo o que escreveste.

      Beijinhos, muitos

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  5. Percebo... Apesar de não ter essa experiência, percebo perfeitamente o teu texto e de algum modo concordo!

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    1. No amor não há fórmulas, esta é a minha forma de sentir, respeito todas as outras.

      Beijos

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  6. O amor devia ser vivida em quantidades exatas independentemente das diferenças,devia ter a mesma partilha e o mesmo empenho de parte a parte,mas é difícil viver um amor assim,mas nunca nos devemos anular por causa de outra pessoa ou tornarmo nos totalmente dependente dela.

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    1. Também penso que no amor tem de haver igual entrega de ambas as partes, não é mesmo nada fácil, há sempre alguém que dá um bocadinho mais, que se entrega mais, no entanto isso não pode nunca implicar anular-se, isso não é saudável.

      Beijinhos

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